terça-feira, 31 de março de 2009
NÃO PISE NA GRAMA
"Não pise na grama."
Amarela
pela ausência de girassóis.
Inútil
porque não tenho os pés no chão.
Fabio Rocha
sexta-feira, 27 de março de 2009
Varias caras....
"Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia.
Sou um o quê? Um quase tudo".
(Clarice Lispector)
Mas qual seria a vantagem em ser quase tudo? Eu não sei se uma pessoa é capaz disso. Mas sei que nem o bombril pode ser assim. É restrito somente as mil e uma utilidades. Mas voltando ao lado filosófico da coisa. Sempre. Querer ser muita coisa ao invés de uma só talvez seja algo não muito bom na nossa vida. A nossa capacidade muitas vezes é restrita. Restrita a fazer coisas nas quais nos damos bem. Alguns se dão bem em estudar, outros em trabalhar, uns em calcular coisas, outros em biológicas, e ainda alguns são bons em coisa nenhuma. E estes ultimos nem assim deixam de ser bons em alguma coisa.
Me diga algo. Muitas vezes reclamamos que a nossa vida só dá errado. Pois sim. Estes são bons em ter coisas erradas na vida. São bons nisso e nisso são bons. Mas convenhamos, antes ser bom em não fazer nada.
O que as vezes acontece é a falta de algo no qual centrar. Esquecer de tentar ser bom em tudo. E ser bom em algo e mediano no resto. O que acha disso? É meio bom e meio ruim. Mas a qual lado pender cai na mesma história do copo meio cheio ou meio vazio... E o resultado dessa discussão todos já sabem. Ou não?
domingo, 15 de março de 2009
Livre arbítrio

Quando, em nossas atividades cotidianas, não nos sentimos solitários, isso indica que já perdemos completamente o contato com nós mesmos. Portanto, nessa situação, nossas vidas estão voltadas ao exterior, aos que nos circundam; dedicamos-lhes todo o nosso tempo. Vivemos em função de algo que, ao mesmo tempo, não somos nós nem os demais, na medida em que também eles não entram em contato conosco. Estamos imersos numa confusão de vozes que não se encontram.
Contentamo-nos com acreditar que todos são o que aparentam ser, inclusive nós; escolhemos acreditar no mundo exterior para negar a distância entre nós e o outro, e também entre eles e si próprios. Todavia, na tentativa de entrar encontrar o outro, apenas nos tornamos também distantes de nós mesmos. Como só podemos entrar em contato com a fachada social dos demais, consideramo-nos também uma fachada.
Nossas vidas resumem-se ao hiato entre abismos desconhecidos. Mesmo que sejamos nossa única verdadeira companhia, preferimos abandoná-la acreditando na linguagem. Deixamos de existir para conviver sozinhos, falando para ninguém, e com isso pensamos escapar da solidão; como dois telefones conversando entre si sem que haja pessoas por detrás. Essa é a figura que melhor ilustra a socialização humana. Resulta que vivemos do lado de fora de nós, onde não está ninguém, e achamos isso muito natural. A distância comum entre tudo nos acalma como se nos livrasse da responsabilidade de admitir que existimos. Vemos a nós próprios como uma espécie de questão filosófica abstrata e distante. Nós mesmos somos um assunto que não nos importa; o deixamos para os estudiosos.
Nossa preocupação está em viver no admirável mundo oco, na realidade que acontece por cima das pessoas, nas cidades, nos bares, nos jornais. Queremos existir às avessas, numa vida exterior comum, onde nosso interior é tão desconhecido que o chamamos de livre-arbítrio.
O Diabo e o redemoinho...
Kingdom hospital way of life

É por ai que a gente cresce: Surrando o próprio rosto com luvas de aço que nós mesmos acabamos de fabricar. E para não bastar, a nossa cara também é, e será surrada pelas luvas de outras pessoas também. As vezes a situação passa a ficar até comica. No nosso individual mais que coletivo, vivemos a vida num hospital. Em que nos machucamos e nos curamos, sucessivamente. Quase que como no "Kingdom Hospital" do Stephen King. Onde existe uma nítida e ao mesmo tempo quase que irreconhecível simbiose entre a loucura e a razão. Mas algo ainda me deixa a crer que estas duas ultimas, nunca estiveram numa posição contrária a de uma simbiose.
"Simbiose é uma relação mutuamente vantajosa entre dois ou mais organismos vivos de espécies diferentes. Na relação simbiótica, os organismos agem activamente (elemento que distingue "simbiose" de "comensalismo") em conjunto para proveito mútuo, o que pode acarretar especializações funcionais de cada espécie envolvida."(wikipedia).
Falamos da dor de crescer. A vida num ato de lucidez e loucura. Mas em que ponto da vida a loucura entra na nossa vida? As vezes a gente, num ato de querer ser adulto, não acredita no mundo pela perspectiva de uma criança. E vê o mundo de uma forma que pensamos chamar de lúcido. Mas se o grande mundo é criado pelos adultos, é dificil encaixar outra forma de enxergar nesse mundo já pré-existente. Se ele fosse um munto infantil, talvez. Disso tudo a gente pode entender que não há como saber o que é loucura e o que não é. Assim como no "Alienista" de Machado de Assis, a relação do que é loucura e o que é lucidêz não está ao nosso alcance. A gente tende a seguir um padrão. E esse padrão que nos leva a algum lugar. Nos lega a crer que malucos são malucos e os normais são os normais.
Mas muitas vezes parece que temos tanto medo de perder a razão, que esquecemos de nos preocupar em manter a razão. Principalmente quando se fala de um coletivo. Temos medo do que os outros falam. E não adianta dizer que não. Todos nós vivemos e nos alimentamos a cerca dos restos que outros deixaram. Agimos como sombra, que durante o dia segue o padrão que o sol impõe. E de noite se confunde com o breu. Que aparece, criada por outro ser. E se esconde com medo de não ser. Nisso a gente se mascara e se disfarça tanto, que chega a perder o que realmente somos. E vivemos por acreditar em algo, ou ser acreditados por algo. E o jeito kingdom hospital de viver aparece, meio insano, meio são, meio simbiótico, e vão.